O lado B



Está tudo muito bonito aqui no blog. Através dele já conhecemos várias formas de inclusão digital como as lan houses, os Telecentros e projetos como o de Inclusão Digital Rural. Mas o texto do Michel me fez pensar sobre o “outro lado da moeda”, quer dizer, será que esses projetos realmente estão ajudando os digitalmente excluídos a mudarem de vida? Acho que não! Pra falar a verdade, assim que eu li o texto da Danielly, postado recentemente aqui no blog, sobre a nova Sala de Inclusão digital implantada no Setor Recanto das Minas Gerais , imaginei logo um lugar como a Sala de informática do colégio onde eu estudava – rolava um boato no colégio de que essa sala era um mito, mas em três anos que estudei lá, eu consegui entrar uma vez na tal sala – o que se via era uma sala com computadores novinhos, porém impedidos de serem utilizados simplesmente porque o colégio não dispunha de um profissional capacitado para auxiliar os alunos. E é assim em vários outros colégios que foram “beneficiados” com computadores para uso dos alunos.

Mas existem lugares em que, além dos computadores, têm professores também. Sim, existem! Porém, nem sempre esses professores são capacitados para ensinar algo além de edição de textos e pesquisa no Google. Incluir digitalmente não significa apenas “alfabetizar” uma pessoa ensinando-a as manhas da informática, mas sim, mostrar a ela como melhorar de vida e ganhar dinheiro através do tão necessário computador. Somente colocar um computador na mão das pessoas ou vendê–lo a um preço menor não é, definitivamente, inclusão digital. É preciso ensiná–las a utilizá–lo em benefício próprio e coletivo. Induzir a inclusão social a partir da digital ainda é um cenário pouco estudado no Brasil.

Pesquisadores afirmam que no Brasil, a inclusão digital precisa ser implantada com mais prática e menos teoria. Eilliam Mitchell, autor do livro E-Topia, estuda o impacto social via inclusão digital e afirma que “Comunidades de baixa renda tendem a atrair menos investimentos em infra-estruturas de telecomunicações e tecnologias, gerando menos motivação de empresas e governos. Em lugares assim, há um risco óbvio de diminuir ainda mais as ofertas de bons empregos e serviços para todos daquela comunidade”.

Outro estudioso do assunto, Adilson Cabral, doutorando em Comunicação Social critica a atuação de laboratórios públicos de informática, como os telecentros, porque muitas vezes os próprios organizadores não têm noção de objetivos e propósitos na hora de ensinar pessoas a usar o computador. “Não adianta apenas oferecer acesso à internet e editor de textos. A gente precisa transformar a perspectiva de vida das pessoas, buscar soluções práticas que melhorem a vida desses novos usuários”, sugere Cabral.

Contudo, existem projetos de inclusão digital que dão certo e conseguem diminuir os índices de pobreza em alguns países.

Em Honduras, uma ONG instalou estações de trabalho em comunidades rurais, cujos computadores funcionavam por energia solar, já que não havia energia elétrica naquela área. Também não havia infra–estrutura de telecomunicações, ou seja, nada de telefones ou conexões à internet. Então começaram a usar conexão via satélite, cujo valor ainda é bem alto. Ocorre que toda a parafernália pode se tornar auto–sustentável, com a própria comunidade arcando os custos de manutenção.

Após o pontapé inicial - ensinando as pessoas a usar as ferramentas e como tirar proveito delas - os agricultores e artesões começaram a vender seus trabalhos pela internet. Jovens da comunidade ainda conseguem usar salas de bate–papo para ensinar espanhol a europeus.

A Índia é um país–ícone quando se fala de tecnologia, mas é bom lembrar que também representa uma nação com terríveis índices de pobreza e desigualdade. Hoje, aquele país exporta software e exímios especialistas em tecnologia, cobiçados pelos países ricos e contratados a peso de ouro.

Outro exemplo é a Costa Rica, um país com a economia baseada em agricultura. Hoje, exporta mais circuitos integrados (chips) do que produtos agrícolas, uma situação impensável anos atrás (será que o nosso “Projeto de inclusão digital rural” também consegue?). O país carrega o apelido de República do Silício, pois hospeda uma fábrica da Intel desde 1998.

Na época, a gigante dos processadores sondou o Brasil, mas impostos e burocracia fizeram a empresa procurar outro lugar - informação confirmada pelo próprio presidente da Intel, durante sua última visita ao Brasil. Em 1999, os chips da Intel já eram responsáveis por metade dos 8,4% de crescimento no PIB e por 37% das exportações costa–riquenhas.

Outra gigante da tecnologia conseguiu superar a burocracia e fazer uma parceria com uma empresa brasileira para colaborar com a inclusão digital, mas parece que o tema da inclusão ficou só como slogan mesmo, já que, pra ser incluído digitalmente, o cidadão tem que se acabar em 32 prestações e se virar pra aprender o que fazer com o computador!


Fonte: Matéria "Inclusão digital: O que é e a quem se destina?" de Paulo Rebêlo para o blog websinder.

Matéria "Quem quer comprar", de Ivan Martins e Duda Teixeira para a ISTOÉ Dinheiro.

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